Quando me mudei do Brasil pra cá, eu pus na cabeça que eu queria um cachorro. Tinha um milhão de motivos pra querer. Estava morando sozinha, num país distante, cheguei aqui no meio do inverno e tava me sentindo muito só e com muito tempo livre. Como já diria vovó, cabeça vazia é oficina do capeta, então eu decidi que precisava de alguma coisa pra me ocupar um pouco mais.
Passei quase 2 meses pesquisando em sites uma raça não muito grande, que fosse independente mas amável e que não latisse muito (eu morava num apê, nem tava afins de ter vizinhos causando comigo porque o cachorro não parava de latir). Ah, e o cachorro tinha que ser de uma raça bastante amigável, já que na empresa que trabalho posso trazer o dog pra passar o dia comigo desde que ele não ataque ninguém. Ah, e eu não queria comprar, tinha que ser adotado. E no meio disso tudo, 1 TRILHÃO E MEIO de pessoas vinham com a história: Mas cachorro dá trabalho, tem certeza que vc qr? Mas e quando vc viajar, o que vc vai fazer? Mas e quando ele fizer xixi/cocô/vomitar no carpete, o que vc vai fazer? E quando, e quando...
Enfim, não dei ouvidos. Pesquisei muito e decidi por um lulu da pomerânia que estava disponível pra adoção, paguei por ele e 2 dias antes de pegá-lo, ele foi internado com parvovirose e não aguentou... Mais buscas e encontrei uma organização que resgata filhotes que seriam mortos por criadores por não estarem nos padrões de raça e por isso não podem ser vendidos. Eram 3 irmãozinhos, nem vi a raça direito. Quando cheguei no lugar aonde eles estavam "expostos", só havia um na caminha, dormindo. Peguei-o no colo 5 segundos antes de uma menininha. Sabia que ele era meu. A menininha me pediu pra pegá-lo no colo, fingi que não ouvi (sou má? Ah não, a irmã dela estava com o outro irmãozinho no colo... sorry mas esse é meu!). Ele era todo pretinho, só tinha uma manchinha branquinha embaixo do queixo e uma no peito. Quietinho, não ficou tentando sair do meu colo. Combinei com a moça de ir buscá-lo na quinta feira na fazenda aonde eles mantém os cachorrinhos. Quinta feira chegou após uma insone noite de quarta. Comprei caminha, ração, coleira, tudo. Fui buscá-lo. No carro, ele chorou na caixa em que estava, no banco do passageiro. Quase 50km e o cachorrinho não parava de chorar. Já pensei, pronto, ele vai chorar a noite inteira e os vizinhos vão me matar. E a partir daquela noite, eu não dormi mais direito pelos próximos 4 meses. Não por ele chorar, porque ele NUNCA chorou a noite. Porque eu não conseguia dormir profundamente. Eu imaginava que ele estava chorando, eu imaginava que eu precisava estar alerta. Afinal, ele dependia de mim. E quem escolheu adotá-lo, mesmo depois de tantos avisos (quase ameaças das pessoas) fui eu. Eu não podia decepcioná-lo e não podia me decepcionar, afinal, eu disse que eu aguentaria todas as consequencias. Eu queria um cachorro, ponto final. Apesar do que todos achavam, eu conseguiria criar um cachorro amigável/quietinho/bem comportado e ia calar a boca de todo mundo. Eu estudei muito sobre comportamento canino, estudei sobre treinamento, estudei, me informei.
Well, 1 ano e 3 meses depois eu só posso dizer uma coisa: Nada foi como planejado. Depois que eu o adotei, eu descobri que a raça dele era pra ser independente sim, mas ele é a coisa mais apegada que eu já vi na vida. Não basta estar por perto, ele tem que estar em cima do nosso pé/mão/barriga/cabeça pra estar bem. A raça dele teoricamente é muito vocal, o que significa que eles latem/choram muito, mas ele raramente late. NUNCA chora. É o bichinho mais amigável que eu conheço, nunca rosnou pra nada na vida. Ele pula alto, coisa que eu não consigo corrigir. Ele sabe fazer alguns truques que eu ensinei e que há 1 ano eu imaginava que ele nunca ia aprender, mas aprendeu. E ele é um dos grandes amores da minha vida.
Tudo isso (vai ser prolixa lá na casa do chapéu) pra dizer que li o post da
Carol e tive um flashback. Eu quero muito um filho, muito. Mais que muita coisa que eu já quis na vida. Mas eu fico pensando no que vai ser da minha vida depois que eu, realmente, tiver um filho. Saber que eu NUNCA MAIS vou dormir tranquila. Saber que eu não vou poder mais planejar viagens a hora que eu quiser. Ouvir das pessoas o quanto um filho dá trabalho, o quanto sua vida muda (e pelo que falam, pra muito pior), o quanto o corpo muda (pra pior
x 2), o quanto a cabeça muda. E saber que tudo isso rola sim, mas uma ingenuidade no meu peito não deixa que eu me apegue ao PIOR. Tudo tem o lado bom e o ruim, e eu, nesse caso, tento me apegar ao bom, quase me enganando.
Ao cheiro do filho, que deve ser a coisa mais deliciosa do mundo.
Ao sorriso, ao abraço, às palavras, às coisas engraçadas.
Ao pedaço de vc que de relance vc percebe naquela boquinha linda.
Às maozinhas de bisnaga segurando seu dedo, forte.
À primeira vez que alguém te chama de mãe.
E eu só consigo imaginar o quanto vão me julgar, o quanto eu vou me questionar. E eu só consigo imaginar o quanto vai valer a pena. Porque depois que a tempestade passa, a gente só se lembra do orgulho de ter saído viva dela e do arco íris bonito no céu. O resto é história.